...

Um diamante bruto, quando lapdado, tornar-se-á entediante rápidamente.

Catarina

Bastidores de um teatro; fim de uma noite memorável que contou com a apresentação de uma das maiores companhias de balé clássico. Todos, artistas, público, administradores do local, já foram embora. Apenas uma pessoa permanecia no local, com seu balde e esfregão a limpar os bastidores. Somente pelo fato de estar lá seus olhos já brilhavam e a moça limpava com orgulho o local.

Sua dedicação ao esfregar o chão era tanta que quando percebeu já estava no centro do palco. Então parou, olhou ao seu redor girando sobre o eixo de seu corpo cada vez mais rápido. No momento seguinte seus trajes não eram mais os mesmos trapos de antes; agora vestia um belíssimo traje de balé, e executava com muita graça e leveza os movimentos mais complexos.

O brilho em seus olhos nunca foi tão intenso, contudo, logo foi interrompido por uma luz dirigida diretamente a eles. Imediatamente ela perdeu a concentração e parou de dançar.

- Quem está aí? O teatro está fechado.
Falou assustada com suas roupas comuns do dia-adia.

Em meio a luz um desconhecido aproximava-se calmamente.

- Queres?
Perguntou estendendo sua mão para a garota.

- O que?
Questionou-o com curiosidade e confusão em seu olhar.

- Seu sonho.
O contraste entre o significado da palavra "sonho" e suas palavras era notável.
- Quer ou não?
A resposta dela era tão óbvia quanto as perguntas que a seguiria. Porém, a garota não conseguia pronunciar uma palavra.

Notando a hesitação da garota, a oferta seria retirada.

- Espere!
Rapidamente ela aceita a oferta pegando na mão do desconhecido.

- Minha bailarina de caixa de jóias.
Assim que proferiu essas palavras, os dois desaparecem do palco.


.

Odystal´s Seybot

Alguns grunhidos em meio a uma vegetação quase morta misturada a rochas. Uma criaturazinha com formato esférico de aproximadamente 30 cm, um par menor ainda de asas e com braços parecia fuçar as pedras em busca de algo, parando subitamente e olhando ao seu redor como se tivesse sentindo-se observado. E de fato estava. Contudo o pequeno ser nada viu além da paisagem já existente. Mesmo assim, seus instintos falaram mais forte e, apesar das asas ligeiramente menores, alçou voo com rapidez.

Percorridos poucos metros o ser para bruscamente mudando de direção; ação que se repete não uma e nem duas, mas até que a criaturinha percebe que não tem como fugir. Então, em um ato desesperado ele retorna para o terreno acidentado buscando um esconderijo. Qualquer lugar onde pudesse se entocar. Somente seus olhos pareciam ver o que o assustava.

Uma passagem estreita que forçou-o a espremer-se para poder passar. Alguns metros a dentro e o caminho se finda. Acuado e sem ter para onde ir, seus sentimentos parecem se transformar. Seu olhar passa do pânico para o fulminante e duas fileiras de dentes serrilhados formam-se em sua larga boca.

Sua voracidade era espantosa para a maioria dos seres. Mas antes que pudesse dar a primeira mordida, uma forte luz parecia emanar da criatura que sentia seus movimentos se solidificando e uma dor aguda onde seria seu coração; a luz fica mais intensa neste ponto, assim como a dor, em seguida move-se para fora do corpo da criatura. Quando está finalmente do lado de fora a dor passa e ambos somem.


.

Etenoiram

Tic tic tic tac tac tic tac tic tac.....

Os sons dos relógio confundiam-se uns com os outros. Paredes, estantes, mesas, janelas, teto, cadeiras, chão tudo estava repleto de relógios de todos os tipos, formas e cores. Ao fim de uma das trilhas, usadas para caminhar por entre os comodos, um Senhor parecia não enxergar nada além da máquina que consertava. A única que não fazia tic tac! Realidade que não demorou muito a mudar com tamanha precisão e maestria com a qual manuseava suas ferramentas. Até que...

Tic.

Foi o único som emitido por aquele relógio, seguido do som de uma martelada. O Senhor não acreditava no que via - sua mão, o martelo, a máquina, todos interligados pelo contato físico. Por um bom tempo ficou atônito, observando. Até que sua primeira reação foi levantar e afastar-se da mesa, mas seu braço parecia segurá-lo, mantendo o contato mão, martelo e relógio. Então percebeu uma linha muito fina, apenas por causa do reflexo que a pouca luz causou. Imediatamente levou a outra mão até sua descoberta, contudo ela parou centímetros da linha. Misteriosamente, o senhor não conseguia mexer um músculo, apesar de sentí-los.

Após alguns instantes, seu movimentos voltam, todavia sem controle. O Senhor dançava e pulava por entre os relógios, pisando e chutando cada um deles. Seus braços realizavam deslocamentos longos enquanto ele girava, batendo e derrubando os que não conseguia pegar em suas mãos, arremessando e golpeando uns contra os outros os que conseguia segurar por alguns instantes. Sua expressão tornava-se mais aterradora a cada comodo visitado; até que ele finalmente para, tendo diante de si sua mais preciosa peça. Um relógio único, e para sua surpresa, intacto. A esta altura não tentava mais resistir; nem mesmo dava-se mais ao direito de pensar.

Imediatamente tudo desaparece diante de seus olhos. A escuridão agora fazia parte dele a tal ponto que não importava o que estivesse diante de seus olhos, nenhuma imagem formava-se em sua retina.


.

Eingereicht

O clamor da multidão era claro; assobios, aplausos, vozes pedindo mais...
Últimos preparativos; somente alguns retoques e finalmente era chegada a sua vez. Ela pôs-se diante das cortinas, apenas esperando ser anunciada.

- E agora!

O som dos tambores iniciavam timidamente, ao contrário de seu coração, que batia freneticamente.

- Com vocês!

Os tambores ganhavam força gradativamente ocupando o lugar do som da multidão que silênciava-se com a expectativa. E então o nome é anunciado.

- LEARQUINA!!!

Eis que, por entre as cortinas, no ápse da altura de seu salto, ela surge parecendo voar suavemente, até que suas mãos tocam o chão, iniciando um rolamento e erguendo-se assim que seus pés tocam o picadeiro. Já em pé, curva-se comprimentando a todos.

O som dos aplausos surgiram imediatamente, calorosos e fervorosos. Mais do que o suficiente para encher a alma de qualquer artista. Porem, em seus olhos, o silêncio! Espantada, procurou por todos os lados a origem dos sons e nada. Estava a ponto de recuar quando avistou um ser finamente trajado fitando-a com um olhar inexpressivo enquanto aproximava-se.

Um sentimento estranho, inexplicável, algo que ela nunca tinha sentido antes invadiu seu interior; e, conforme o ser aproximava-se. a ilustre palhaça afastava-se até que não teve mais como mover-se. Suas costas atingiram um dos pilares que sustentavam a lona do circo. Sem poder distanciar-se mais, sente a força de suas pernas esvaírem. Mesmo com as pernas estendidas, vagarosamente sentou-se. Parecia até que alguém guiou seu corpo para que ela não se machucasse. Seus braços pesavam, sua mente enturvava e em seguida adormeceu; juntamente com os sons das pessoas e o ambiente onde estava.

Com as pernas semiabertas, os braços ao longo do corpo e a cabeça pendida para frente, lá estava ela, sentada ao lado de uma boneca de porcelana com algumas maquiagens ao redor.


.

Parnassius mnemosyne

Em seu quarto, sentada numa cadeira em frente à penteadeira, com o olhar fixo no espelho, maquiava-se...

Sua preocupação? Apenas em ser mais bela a cada momento!

Primeiramente a base, com movimentos impensados, porém precisos; seguido pelo pó, aplicado quase que mecânicamente. Logo após a sombra nos olhos, então é a vez do rimel e após o lápis para o contorno. Finalmente é chegada a vez do batom e por ultimo o blush. Um ciclo terminava e dava origem a outro, que iniciava-se com o passar da base repetindo a mesma sequência sempre, porem com diferenças na forma e cores usadas. Uma camada acima da outra.

As camadas de maquiagem? Todas absorvidas por sua pele, gradativamente.

Pouco a pouco seus movimentos perdem a vida, tornando-se automáticos. Seu olhar não enxergava mais o reflexo no espelho, parecia ver além, mas de uma maneira dura, inespressiva.

Repentinamente o espelho começa a quebrar em pequenos pedaços disformes. Em um segundo momento, os móveis também começam a se despedaçar, restando apenas a cadeira onde ela esta sentada e os materiais necessários para maquiar-se, até que o quarto não existia mais. Somente os estojos de maquiagem, os utensilhos usados para aplicá-la, a cadeira e ela maquiando-se em meio ao nada.

Lentamente, ao seu lado, aparece uma boneca jogada.


.

Mezameru

A luz invade seus olhos e em um primeiro momento, apenas borrões; que com o passar do tempo transformam-se em vultos e então começam a ganhar forma. Um ser, gentilmente, estende sua mão..

- Madelaine.

A criatura recem despertada levanta-se apoiada por seu criador. Com movimentos incertos e inseguros ela dá seus primeiros passos em um enorme salão grandioso e ricamente ornado. Pouco a pouco a precisão e a segurança tomavam conta das ações da boneca; e o que começou com um simples caminhar, lentamente mudava de forma para uma graciosa dança.

Quando a criatura boneca percebeu, o chão agora eram nuvens, e as estrelas ocuparam o lugar das paredes. A dança evoluía cada vez mais tornando-se sublime; até que novamente o cenário parecia mudar repentinamente aos seus olhos. O chão. Não! As nuvens diminuíam seu raio, tendo os dois como centro. As estrelas, que iluminavam este tempo e espaço, apagavam-se. A música já não existia mais. Tudo parou subitamente. Os corpos se afastaram o suficiente para que seus olhares se cruzassem. Lágrimas cristalinas despejavam seus sentimentos.

- Drocell.

A escuridão deixa Madelaine, a criatura-boneca, caída no chão enquanto Drocell, seu criador, afasta-se vagarosamente sem olhar para trás.


.