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Um diamante bruto, quando lapdado, tornar-se-á entediante rápidamente.

sereias...

Colunas de madeira formam-se a beira de uma queda d´agua, dando sustentação a um coreto em estilo oriental. Em seu interior algumas frutas e uma garrafa ainda cheia; no centro um ser com cabelos negros e ondulados, e vestes tão brancas quanto sua pele, aguardava com o olhar sereno. Enquanto isso, lentamente, uma névoa começa a elevar-se e quando atingi a base do coreto, Drocell surge suavemente sentado à frente da criatura. Sem que nenhum palavra fosse proferida ele acaricia o a face feminina à sua frente. A comunicação entre os dois parecia ser feita apenas com o olhar com a mesma intensidade da queda d´agua abaixo deles.

A névoa então parece tomar conta do ambiente mais rapidamente e ao encobrir o coreto um silencio incomum passa a predominar. A água e o ar não fluíam mais, a névoa estava estática. Absolutamente tudo parou.

Apenas um segundo se passou e então o universo volta a circular novamente. Nesse mesmo instante a mulher nua executa um salto lançando-se do coreto para a queda d´agua. Logo em seguida, em meio a névoa que começava a dispersar-se a garrafa, fechada e ainda cheia, segue a mesma trajetória da sereia.

E antes que o ocorrido no coreto pudesse ser revelado todo o cenário some, como se implodisse para dentro de Drocell.


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Pérola de Sangue

Em movimentos suaves uma borboleta emanando uma luz branca bate suas asas no aparente vazio. Seguindo seus movimentos os olhos de um felino acompanham suas ações sem esboçar qualquer reação a sua presença. Em pouco tempo os paços delicados de uma aranha passam a fazer companhia a ele com igual falta reação. Ambos não sentiam a necessidade de agir frente à existência que fluía livremente em direção a uma esfera vermelha.

Sem dificuldades a borboleta adentra o objeto passando a iluminar o seu interior e mostrando a silhueta de um ser transpassado por diversos fios de espessura menor que a de um cabelo. Quando o inseto atinge interior da criatura perfurada, sua luz desaparece. Neste exato momento uma dor aguda é sentida por todos as criaturas - com exceção da borboleta que é externa a este mundo - e antes que qualquer um pudesse ter consciência do que estava acontecendo, a dor ganha uma proporção dilacerante. Este sentimento dura a eternidade que o fio, que a borboleta agora carrega, leva para separar-se do habitante da esfera.

Subtamente Drocell e Domenique aparecem ao lado de Sussurro e Miho, igualmente sem vontade de reagir. Mesmo não compreendendo, aceitam a dor enquanto observam o fruto de uma criação alheia carregando um fio; que assim que perde o contato com a estera toma a forma de uma pérola.

Pouco a pouco mais algumas criaturas apareciam e a única coisa que conseguiam fazer era assistir a borboleta e a pérola sumirem no horizonte do nada...


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Queda livre

Um ser alado com dois pares de asas magníficas, um lembrando anjos e o outro demônios, sobrevoa a imensidão do Nada salpicado por algumas ilhas de existência, a procura de um porto seguro. Contudo, os poucos seres que podem oferecer condições para seu pouso e os cuidados para suas asas cansadas após tanto tempo são proibidos.


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Exausto, o espírito hibrido de luz e trevas, mergulha em direção ao centro do vazio. Ao atingir uma velocidade incrível ele vira-se de costas à direção de sua trajetória assumindo uma posição fetal e envolvendo a si com suas asas formando uma espécie de casulo.


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Miho

Em um luxuoso quarto de uma nobre residencia um Senhor repousa sobre a cama coberto por lençóis. Sem forças para sequer mover-se, ele apenas segue com o olhar a Dama que adentra em seu quarto, caminha calma e silenciosamente até sua cama e senta-se ao seu lado. Em um toque suave a mão da mulher percorre o rosto do homem e com a mesma intensidade ela encosta seus lábios nos dele em um beijo doce e confortante. Sentindo que seriam estes seus últimos instantes de vida, reuniu toda a força que lhe restava e suspirou as seguintes palavras.

- "O covarde mata com um beijo; O valente usa um punhal" -Oscar Wilde

Com naturalidade ela leva a mão até o objeto que prendia seus cabelos, retirando-o e revelando uma pequena lâmina liberando seus longos, lisos e negros cabelos que contrastavam com sua pele branca.

- Se é assim que preferes...

A Dama golpeou-o certeiramente no coração. Em seguida levantou-se e saiu do quarto deixando a lamina cravada no corpo do Senhor, prestes a soltar o ultimo sopro de vida. Enquanto caminhava pelos corredores, cumprimentava naturalmente os empregados e/ou convidados que por ventura cruzavam seu caminho.

Já na escada que dava acesso à porta da frente, uma súbita rajada de vento faz com que as portas abram-se e as luzes do corredor até o primeiro degrau apaguem-se. Inabalável ela continuou e adentro no breu. Mesmo fora da casa, a iluminação era inexistente; a não ser por um único pino de luz que iluminava um ser apoiado em uma bengala. Da Dama só ouvia-se os passos que pareciam cada vez mais curtos e rápidos emitindo um som metálico que aproximava-se cada vez mais do pino luminoso. Quanto entrou em seu raio de alcance, revelou uma aranha negra que subiu pela bengala e posteriormente pelo braço, parando no ombro do ser; enquanto simultaneamente a luz fechava-se até a sua ausência completa.


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O mundo dentro do jarro; O jarro dentro do jarro; O jarro dentro do mundo.

Um pulsar, semelhante a batida de um coração, ecoa no aparente vazio estremecendo-o. Sua fonte?

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Drocell aparece imediatamente.

- O que pode ter abalado sua estática?

Com passos calculados, circundando uma grande e negra esfera, mantinha seu olhar fixado no centro como se enxergasse dentro dela.

- Nada parece ter mudad.......

 A constante inexpressão de sua face repentinamente da lugar à perplexibilidade.

- Um filete de sangue está escorrendo em linha reta na direção da borda da esfera.

Um momento de silêncio e uma vida de pensamentos passam.

- Finalmente irá despertar?

Ele fica a observar até que a esfera ficar totalmente tingida com o sangue do ser que a habita, e um momento mais; e tão rápido quanto a perplexibilidade instalou-se em seu rosto ela simplesmente desaparece, como um sorriso quando a graça acaba.

- Qual será o som do bater destas asas majestosas???

No mesmo instante em que deixa a pergunta no ar Drocell dilui-se no vazio.
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Um ser alado com dois pares de asas magníficas, um lembrando anjos e o outro demônios; aparentemente suspenso no centro de uma esfera, em uma posição quase fetal. Diversos fios, de uma espessura menor que a de um fio de cabelo, que transpassam seu corpo; condição que só podê ser notada graças aos filetes de sangue que escorrem em direção à borda, tingindo a esfera gradativamente.


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