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Um diamante bruto, quando lapdado, tornar-se-á entediante rápidamente.

Parnassius mnemosyne

Em seu quarto, sentada numa cadeira em frente à penteadeira, com o olhar fixo no espelho, maquiava-se...

Sua preocupação? Apenas em ser mais bela a cada momento!

Primeiramente a base, com movimentos impensados, porém precisos; seguido pelo pó, aplicado quase que mecânicamente. Logo após a sombra nos olhos, então é a vez do rimel e após o lápis para o contorno. Finalmente é chegada a vez do batom e por ultimo o blush. Um ciclo terminava e dava origem a outro, que iniciava-se com o passar da base repetindo a mesma sequência sempre, porem com diferenças na forma e cores usadas. Uma camada acima da outra.

As camadas de maquiagem? Todas absorvidas por sua pele, gradativamente.

Pouco a pouco seus movimentos perdem a vida, tornando-se automáticos. Seu olhar não enxergava mais o reflexo no espelho, parecia ver além, mas de uma maneira dura, inespressiva.

Repentinamente o espelho começa a quebrar em pequenos pedaços disformes. Em um segundo momento, os móveis também começam a se despedaçar, restando apenas a cadeira onde ela esta sentada e os materiais necessários para maquiar-se, até que o quarto não existia mais. Somente os estojos de maquiagem, os utensilhos usados para aplicá-la, a cadeira e ela maquiando-se em meio ao nada.

Lentamente, ao seu lado, aparece uma boneca jogada.


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Mezameru

A luz invade seus olhos e em um primeiro momento, apenas borrões; que com o passar do tempo transformam-se em vultos e então começam a ganhar forma. Um ser, gentilmente, estende sua mão..

- Madelaine.

A criatura recem despertada levanta-se apoiada por seu criador. Com movimentos incertos e inseguros ela dá seus primeiros passos em um enorme salão grandioso e ricamente ornado. Pouco a pouco a precisão e a segurança tomavam conta das ações da boneca; e o que começou com um simples caminhar, lentamente mudava de forma para uma graciosa dança.

Quando a criatura boneca percebeu, o chão agora eram nuvens, e as estrelas ocuparam o lugar das paredes. A dança evoluía cada vez mais tornando-se sublime; até que novamente o cenário parecia mudar repentinamente aos seus olhos. O chão. Não! As nuvens diminuíam seu raio, tendo os dois como centro. As estrelas, que iluminavam este tempo e espaço, apagavam-se. A música já não existia mais. Tudo parou subitamente. Os corpos se afastaram o suficiente para que seus olhares se cruzassem. Lágrimas cristalinas despejavam seus sentimentos.

- Drocell.

A escuridão deixa Madelaine, a criatura-boneca, caída no chão enquanto Drocell, seu criador, afasta-se vagarosamente sem olhar para trás.


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